Tempo!

domingo, 10 de agosto de 2008



É estranho pensar sobre a "falta de tempo" que alegamos quando não conseguimos fazer algo, ou rever um amigo, ou colocar em prática algum projeto de vida. O dia possui 24 horas, dentre as quais devemos separar as atividades básicas fisiológicas, como comer e dormir, e distribuir o restante das horas entre as outras tarefas: como viver, por exemplo. Que fique claro que o viver que digo aqui é trabalhar, conversar, rir, ouvir música, pois o simples fato de respirarmos já nos torna um ser vivente.

O que é o tempo, afinal? Essa "coisa" que se apossou da modernidade, de maneira à dominá-la completamente, capaz de fazer, às vezes, com que o "tempo" de uma vida não seja suficiente para realizar todas as coisas?

Estamos presos a uma convenção que limita horizontes, "encurta" ou "prolonga" situações, mas é uma convenção. Talvez o ideal fosse pensar como Clarice Lispector:

"Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa." (Um sopro de vida)

Porque no fundo é isso mesmo. Qual a única certeza, a única verdade absoluta da qual temos conhecimento? A certeza de que perecemos.

Para Santo Agostinho, a questão se torna ainda mais complexa quando dividimos este tempo em presente, passado e futuro:

"Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo claro e brevemente? (...) e que modo existem aqueles dois tempos - o passado e o futuro - se o passado já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito, como poderíamos afirmar que ele existe, se a causa da sua existência é a mesma pela qual deixará de existir?" (Confissões)

O que existe, na verdade, são três tipos de presente:

"o presente das coisas passadas, presente dos presentes, presente dos futuros" (Confissões - Santo Agostinho)

Outra obra da Lispector, Água Viva, comenta sobre o "instante-já", que é, mas deixa de ser tão imediatamente, que passa a ser outro instante-já, que também já não é mais, de tão imediatos que são:

"estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais."

Das explanações filosóficas e literárias sobre o tempo, sobre a relatividade das denominações, podemos chegar a uma conclusão: somos concomitantes!*

*Também em "Água Viva" - de Clarice Lispector.

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