O guardador de ossos

domingo, 24 de março de 2013

O guardador de ossos passa com seu carrinho.
Pelo caminho, vai recolhendo os últimos vestígios
de que um dia, ali, também houvera vida.
O carrinho lotado segue.
Carcaças de gado,
secas como o sol,
secas pelo sol.
O guardador de ossos recolhe o que antes fora um bezerro.
A carcaça seca sobre a terra seca,
e no céu, o azul reina como infinito que só ele o é.
O guardador de ossos seca o suor do corpo quase seco.
Os olhos secos,
os pés secos,
a terra seca.
O guardador de ossos, em silêncio, respeita a carcaça seca.
Ele pensa, enquanto recolhe.
Ele reza, enquanto se seca.
Ele pensa e reza para que, um dia, também recolham a sua carcaça seca.


Um comentário:

Rovênia disse...

Que lindo, Priscila. A vida ante a morte. A poesia nascida da secura! Parabéns!

 
FREE BLOGGER TEMPLATE BY DESIGNER BLOGS