"Medo do desconhecido" - Clarice Lispector

terça-feira, 28 de maio de 2013

Então isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De início se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.

[crônica em "A descoberta do mundo"]

(é por essas e outras que eu amo essa mulher! ;))


Um comentário:

Rovênia disse...

Como a felicidade passa, não se pode querê-la eterna. A mediocridade é a razão, é saber disso. :) Beijinhos!

 
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