Pátria amada, Brasil! Parte II

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Que o Brasil tem andado muito bem relacionado (e ranqueado) em relação à economia mundial, todos nós temos muito ouvido falar nos últimos anos. Mas isto não significa que alguns dos nossos problemas estruturais básicos, e que têm nos acompanhado há séculos, tenham sido por fim resolvidos. É basicamente disto (e de outros assuntos tão graves quanto) que trata o discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, um dos maiores eventos da área editorial no mundo, e que agora também terá a participação brasileira. Palmas para o Ruffato, que mostrou lá fora que nossas praias e belíssimas paisagens naturais escondem, ainda, muita desigualdade, miséria e injustiça.

Seguem alguns trechos do discurso e o link do Estadão, com o discurso completo! :)

"(...) Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo --amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro --seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora."

Um comentário:

Rovênia disse...

A literatura muda o mundo. Se ele está certo? Certíssimo! Não tinha lido e agradeço, Pri! :)

 
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