Paisagem XXVII - Marcas

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A velhice nada mais é que uma flor já prestes a murchar. As pétalas perdem a vivacidade da cor, e vão se tornando amarelas. A pele, antes rígida, agora é fina, sensível, e deixa transparecer as veias, também sensíveis, como se estivessem prestes a romper. As mãos, antes ágeis, agora tremem e a fragilidade transborda pelos dedos inseguros. Os rostos são serenos. A sabedoria traz a serenidade, a conformação sobre tudo o que não se pôde mudar em uma vida, fossem quais fossem as razões. A velhinha  à minha frente lê um livrinho escrito "poesias para o irmão". Aposto que não é para o irmão dela, deve tê-lo achado escondido ou perdido por aí. Penso que eu, quando minha pele estiver tão fina, e eu tiver o semblante tão sereno, assim, passeando numa tarde de domingo, talvez me acompanhe um Baudelaire, que eu encontrarei perdido no fundo de minha bolsa, enquanto alguém também escreve sobre as marcas que o tempo deixara em meu corpo.

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