Paisagem XXVIII - Da varanda

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A mesa na cozinha tem muitos lugares vazios, diferente do que havia outrora. O olhar perdido já não percebe os espaços, não distingue as coisas. O quintal gigante, antes bem cuidado, cheio de hortaliças, hoje é tomado pela grama e o mato alto. As vozes das crianças brincando e correndo com os cães também se calaram, e o silêncio e a cigarra são os que imperam. Ainda lembro do vô colhendo milho, dos primos brincando na mina d'água, do pai proseando na varanda. O vô foi levado pelo Tempo: aquele que governa a vida dos mortais desde o dia em que nascem (eterno paradoxo). Os primos cresceram e carregam os fardos do trabalho diário. O pai senta-se na varanda, ao lado da vó que ficou, e hoje é um pouco triste. Enquanto estou parada na porta, estas lembranças me alcançam como a mão da minha prima me alcançava no jogo de esconde-esconde, naquela época longínqua chamada infância. Enquanto olho minha prima, penso, ainda, o quão cruel é este mesmo Tempo, que vai levando as coisas assim, aos pouquinhos, e, sem que se perceba, só nos deixa as cigarras, o trabalho, o silêncio, e um pouco de tristeza.

Um comentário:

Rovênia disse...

O segredo, amiga, é promover a infância das crianças que chegam. Que seja tão mágica e inesquecível quanto à nossa. Beijos e ótima semana! :)

 
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