Meus poemas

Nesta página estão reunidos os poemas publicados no antigo Liberdade Perfeita. 



Lobisomem

Eu corro
me escondo
eu resisto
eu insisto
nessa agonia
Oh! Teimosia
que me persegue
que me encurrala
sem saída
medida perdida
eu insisto
eu não resisto
você me consome
larga-me lobisomem
as luzes somem
a lua se esconde
sai de mim!
Com seus olhos castanhos
e dentes de marfim.
Eu corro
me escondo
e ouço o estrondo
Pronto!
Pegou-me de novo!





Jura


Jura,
que me dirá injúrias
secretamente
na rua escura...
Anda, sussurra,
que eu adoro as suas juras
que mais parecem injúrias
porque nunca são verdades.
Eu não ligo,
gosto do perigo
sei que me arrisco
ao sair na rua escura
mas eu quero sua jura
vêm, me segura.
Que injúria!
Secretamente,
discretamente,
na noite turva
anda, jura!






Untitle I


Cheguei bem perto do espelho.
Pisquei!
Nesse segundo,
alcancei o seu rosto,
acariciei seus cabelos,
toquei seus lábios,
e voltei sozinha para dentro de mim.






Untitle II


A brisa primaveril,
brincando,
derrubou as flores maduras pelo chão.
Mas, antes de cairem,
de leve,
desenharam formas no ar,
faceiras,
dançaram entre os seus cabelos,
negros,
e amarelaram a paisagem verde,
dos caminhos até você.






Sobre o teu sono



Deixa eu velar teu sono
espantar teus medos.
Apago a luz, mas deixo a estrela.
Quer que eu te cubra
com os meus cabelos?
Espíritos noturnos
não alcançarão teu leito.
Dorme, dorme,
eu tomo teus pesadelos,
coloco-os numa caixa
e transformo-os em vento.
Fecha teus olhos
que lá fora urram as horas
mas aqui dentro
eu é que comando os segundos
e teço o silêncio.
Dorme... dorme...
que quando a noite morre,
e teu despertar floresce
meu corpo descansa
no novo dia que amanhece.





Noturna



Eu sou noturna
como esses gatos
escuros, pardos
de telhados.
A luz da rua,
a fluorescência
desmembra minha essência
de gata nua
na rua escura.
Desço e subo
por calhas frias
corro no molhado
cadê você no meu encalço.
Eu sou noturna
e tão soturna
quanto esses góticos
alucinados
na noite fria.
Na luz da rua,
amarela, sombria
cadê seu rastro
dentre a neblina?
Eu sou noturna
como esses gatos
pardos
entre a neblina.





Caos

Todas essas estrelas confusas
em noites semi-escuras
bagunçam meus versos
desordenam meu cosmo
tiram meu sono.
E estes teus olhos
pequenos, escuros
transformam meus sonhos
no caos mais profundo.
Falas de deuses
e teorias confusas
e todas essas estrelas
em noites semi-escuras.
E eu fico inconclusa
perdida no caos
num Universo inseguro
em plena Aurora Boreal.




Untitle III



Ao longe, mil violinos tocam
enquanto as vozes se calam.
Tão longe, que mal posso distinguir
os acordes, mil, tão disformes
que juntos, a canção soa confusa
e perde-se no instante que se foi.
São as horas, as mais escuras,
levam desejos, doçuras.
São as horas, instantes,
deixam o silêncio incessante.
Um dia, que será fruto destas horas,
silenciosas,
juntarei melodias e acordes disformes
e farei a canção mais vibrante,
num tom constante,
aqui, neste instante.




Pequeno poema de libertação


Libertei-me de mim em plena sexta-feira
noite azul, cheiro de estrela
e a imensidão que tomou minhas fronteiras
levou-me longe, muito além da última castanheira.
Foi preciso andar por caminhos estranhos
e estar presa sob as amarras de mim mesma
para perceber que meus versos brancos
outrora cinza como este cimento
já não podem mais suportar estes tons:
libertaram-se, em meio à sexta-feira azul.





Untitle IV


Escrevo versos curtos
confusos e sem rumo.
Onde está a sintonia perfeita?
É disto que sou feita,
destas linhas rarefeitas
como se seguisse um curso
um caminho, que a muito custo
vai se formando enquanto escrevo
e as letras saem em relevo
marcando o papel como dedos.
E quando penso que tudo, enfim, escrito
existirá muito além do infinito
o vento vem e leva as letras,
deixando para trás as arestas
milhares de frestas
incertas
e os versos se esvaem
um a um
monossilábicos,
mais um,
enigmáticos,
um,
e se acabam.




Untitle

Daqueles laços de família
estreitos, fincados
ontem eram tão puros,
milimetricamente traçados
e de repente o estrondo,
rompem-se,
num arrombo
levando consigo tudo o que foi cultivado
todos esses meses
com carinho, especialmente moldado...
Cadê a vida que estava aqui?
Desfez-se, como se desmancham os mais delicados bordados.




Drossel



Ouço cantos pelos caminhos da Vogelsang
e não é influência do nome.
Sol radiante sobre as ruas ainda vazias
enquanto minha amiga observa a paisagem de sua janela.
É tudo tão calmo, tranquilo,
e eu, tão acostumada a esta correria louca, desvairada.
Ela olha, tão clara, e sorri
"Drosselweg, Drossel é um pássaro"
e eu sorrio, achando belo,
eu, que nem sabia o que era um Drossel.
Já é tudo tão belo: as ruas, as árvores, os nomes. É verão.
A paisagem clara, iluminada.
É tudo tão calmo, tranquilo,
tão calmo quanto os olhos azuis de minha amiga.






Untitle


Hoje acordei entoando aquela música
As mesmas notas,
Os mesmos tons tão conhecidos
A letra, esta também, nunca muda por inteiro,
Apenas pequenos trechos, personagens de uma trama que nem começou...
Trilha sonora de um filme sem fim,
O som ecoa pela sala vazia,
O quarto vazio,
Quisera eu ter a mente vazia...
Escapa um ruído, ao fundo, quase inaudível
E se junta aos quases da sala, e aos outros tantos de minha vida,
Como agora,
Como dantes
A mesma música, as mesmas notas,
Apenas a letra, veja, ouça:
Percebe? Nunca muda por inteiro...
E eu recolho todas as páginas,
Partituras rabiscadas,
De ontem, de hoje, talvez de amanhã,
Guardo-as todas em minha caixa dourada, cor de luz
E deixo a sala, vazia.


Homem escrevendo


Um homem escreve sob o sol da tarde.
O que ele escreve?
A mão encardida que mancha a folha branca,
o que ela escreve?
Um Homem, dentre tantos, que escreve o destino dos homens,
o que ele escreve?
Em versos, o caminho da mulher perfumada do outro lado da calçada.
Em prosa, o trajeto trôpego do homem sentado sob o sol.
O que ele escreve?
Não escreve. Pensa em escrever.
Ensaia. A caneta corre.
Não escreve. Pensa, se soubesse...
Um homem sentado sob o sol da tarde.
O que ele pensa?
Pensa que, se talvez escrevesse...
tudo poderia ser diferente.
O Homem que escreve o destino dos homens,
o que ele escreve?
Escreve tanta coisa, tanta história.
O homem sentado sob o sol pensa:
"Quando Ele vai escrever a minha história?"

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