Imagine acordar, num dia como outro qualquer, e ver em lugar das cores e formas inúmeras que vemos todos os dias, branco: e só!
Será que a humanidade dá o devido valor à paisagem que olha pela janela de manhã? Será que as pessoas vêem as outras quando se cruzam pelas ruas? Se não damos importância às cores do céu ao fim da tarde, ou esbarramos (atropelamos) pessoas na catraca do metrô na hora do
rush, para que precisamos da visão?
Quem assistiu ao filme ou leu o livro "Ensaio sobre a cegueira", do escritor português José Saramago, talvez tenha se perguntado "por que a cegueira é branca?", "por que, como epidemia que é, não atingiu a todas as pessoas?"
O autor mostra, através da cegueira, o quanto o ser humano é egoísta e degradante; o quanto é ainda capaz de afundar quando já se encontra no fundo de uma vala fétida. Saramago mostra homens que querem dinheiro quando não há o que comprar; querem tomar o poder quando não há quem comandar; atiram no escuro; abusam uns dos outros quando não conseguem nem cuidar de si mesmos.
A cegueira não deveria ser negra?
Negra é a cegueira enfermidade (dos olhos). A cegueira da alma é branca.
A cegueira da alma não nos deixa ver o outro, e, talvez, a nós mesmos.
E se acordássemos, num dia como outro qualquer, e víssemos tudo branco: e só!
Talvez já estejamos assim...