Esses dias, na fila da farmácia, um homem esbravejava
na fila do caixa contra o governo, o sistema e os empresários. O tamanho da
fila despertara no homem a fúria que iniciara todo o discurso. “Não contratam
mais a gente em idade de serviço, contratam aposentados, para não pagaram os
direitos”, dizia atrás de mim. “Empresários são assim, por isso que o Brasil
não vai pra frente, é cada um por si... empresário domina tudo, só pensa em
si...”. Não olhei para trás para não concordar e nem discordar. Não que eu
discorde, mas acontece que, naquele dia, eu não estava para críticas. Não que
ele não devesse esbravejar, mas acontece que ninguém ouve. Eu ouvia, mas fingia
não ouvir. A moça do caixa também ouvia, mas fingia não ouvir. Ele estava atrás
de mim, e passou suas compras de remédios logo após a minha saída. A última
coisa que vi foi que ele mexia na cestinha de remédios em promoção, já em silêncio,
examinando algo para dor de cabeça, em meio à fila que não o ouvia e os gritos
silenciosos que calara desde então.
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