As latinhas recolhidas nas lixeiras da estação garantirão o jantar desta noite. Começam cedo, junto com a cidade que acorda para trabalhar. Mas isto também é um trabalho, quem foi que disse que não é? Não fossem seus cabelos brancos, e, às vezes, suas costas arcadas por terem carregado o peso de tantos anos, seriam, cada um, apenas mais um cidadão em busca do pão-de-cada-dia, mas por meios dignos, claro, porque a necessidade (leia-se a falta de tudo) não lhes tira o que está fundado em seu íntimo, desde a infância, aquilo que a mãe ensinava enquanto cozia junto ao fogão. Mas hoje não é mais assim, "os tempos são outros", dizem, enquanto caminham em direção à próxima lixeira.
Foto: João Ferraz
Foto: João Ferraz