As mulheres sempre foram inspiração para todas as formas de arte, nas artes plásticas, a enigmática Monalisa ou as gordinhas de Botero, na música, inspirando letras e melodias harmoniosas, ou na literatura, na forma de um romance que pode conter os mais diferentes tipos de mulheres, sem contar a forma de poesia.
O site
Obvious (que ando lendo bastante ultimamente) publicou, há um tempo atrás, uma matéria sobre o estudo de uma professora de uma Universidade francesa chamada Mirelle Dottin-Orsini,
"A mulher a que eles chamam fatal", o qual, infelizmente, não encontrei à disposição na net. Neste artigo, Mirelle faz um estudo sobre a representação da mulher nas artes do cenário europeu e constata que a partir do século XIX, a mulher deixa de ser representada como musa, com personalidade angelical, e passa a assumir posturas provocantes, até demoníacas, sendo portadoras do mal e da desgraça. Isto também acontece na literatura brasileira, com poetas que a autora do artigo, Priscilla Santos, cita para ilustrar o cenário nacional: Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo, Olavo Bilac e até Castro Alves.
Particularmente, gosto de ver as mulheres na poesia brasileira como sinônimos de beleza e perfeição de formas, e, pelo menos nos poemas que conheço, as mulheres aparecem, ainda, como seres que representam a vida, a criação. Separei alguns trechos dos meus poemas preferidos sobre mulheres, que também são fatais, mas talvez não sejam tão demoníacas assim!
"A mulher que passa" - Vinicius de Moraes
"Meu Deus, eu quero a mulher que passa
seu dorso frio é um campo de lírios
tem sete cores nos seus cabelos
sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas
que me sacias e suplicias
dentro das noites, dentro dos dias! (...)"
A mulher como ser perfeito, representação de beleza e sensualidade, e reparem no aparecimento do número 7, o número da perfeição!
"Teresa" - Manuel Bandeira
A primeira vez que vi Teresa
achei que ela tinha pernas estúpidas
achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse).
Da terceira vez não vi mais nada.
Os céus se misturaram com a terra
e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Apesar de ser feia, Teresa conquista o eu-lírico e o poema termina com uma referência ao divino e ao momento da criação.
"Jandira" - Murilo Mendes
"O mundo começava no seio de Jandira" (...)
"Os namorados passavam, cheiravam o seio de Jandira,
e eram precipitados nas delícias do inferno.
Eles jogavam por causa de Jandira,
deixavam noivas, esposas, mães, irmãs,
por causa de Jandira.
E Jandira não tinha pedido coisa alguma.
E vieram retratos no jornal
e apareceram cadáveres boiando por causa de Jandira.
Certos namorados viviam e morriam
por causa de um detalhe de Jandira.
Um deles suicidou-se por causa da boca de Jandira.
Outro, por causa de uma pinta na face esquerda de Jandira."
Eu amo esse poema!
Além de lindo, ele é divertido. Jandira é o sinônimo da mulher-mãe, da mulher-beleza, da mulher fatal. Ela é angelical e demoníaca ao mesmo tempo. Ela dá vida e traz morte, um perfeito jogo de paradoxos.
E se o leitor tem algum poema preferido, pode deixar um trechinho aqui para compartilharmos!