Os olhos invejosos do rapaz novinho, recém-chegado do trabalho na construção civil, pousam sobre os rapazes engravatados que acabam de entrar no trem. Eu, observando o rapaz, reconheço o olhar. São os mesmos olhos invejosos que eu lançava às moças de salto alto e roupas de fina costura no centro de São Paulo. Uma mão ressecada pelo cimento segura a outra. As mãos dos engravatados seguram celulares. O boné protegeu os cabelos dos respingos de água suja, mas não protegeu a orelha exposta. Os engravatados em seus cortes retos e rentes. Uma vez quisera eu andar assim, em fina costura, porque nela eu trazia todos os meus sonhos e expectativas de um futuro melhor. A fina costura não veio. As expectativas não vieram. O futuro veio, como sempre.
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Um comentário:
E então todos os ternos do mundo apenas encobrem nossa monstruosidade reprimida, as vezes o terno vem para dar nova cara a nosssa luta, mas muitas vezes ele faz com que lutemos a contra nós mesmo!
Será que eu entendi ou estou falando de mim mesmo!?
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