Paisagem XXII - A Criança

sábado, 3 de novembro de 2012

Eis me aqui defronte à expressão mais pura de sinceridade, comparável à declaração de uma criança que, olhando em seus olhos, lhe diz que você é a pessoa mais bonita que ela já vira. Só que não há criança. E muito menos pureza. A expressão de sinceridade nasce de um momento de fraqueza e vulnerabilidade, degradação e humilhação, como um grito sufocado pela moral e pelos bons costumes do cidadão exemplar e respeitável. Afinal, é a isto que a sociedade nos submete: à "sufocação" constante de suas vontades e repressão total de seus desejos, e à alimentação de uma angústia sem fim, somada à insatisfação pessoal, emocional, profissional, do cidadão politicamente correto e solidário. E aquela criança sincera e pura vai definhando, criando cânceres, mágoas e esquizofrenias dentro de si, abraçando terapeutas dos mais picaretas e aproveitadores, até o final dos dias aos quais dão o nome de vida.

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