Que o Brasil tem andado muito bem relacionado (e ranqueado) em relação à economia mundial, todos nós temos muito ouvido falar nos últimos anos. Mas isto não significa que alguns dos nossos problemas estruturais básicos, e que têm nos acompanhado há séculos, tenham sido por fim resolvidos. É basicamente disto (e de outros assuntos tão graves quanto) que trata o discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, um dos maiores eventos da área editorial no mundo, e que agora também terá a participação brasileira. Palmas para o Ruffato, que mostrou lá fora que nossas praias e belíssimas paisagens naturais escondem, ainda, muita desigualdade, miséria e injustiça.
Seguem alguns trechos do discurso e o link do Estadão, com o discurso completo! :)
"(...) Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas,
florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar
execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil,
desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado
como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de
protagonista no mundo --amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e
indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e
consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de
matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de
competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região
situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores
quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio
a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da
literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro
semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de
armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete,
tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os
livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma
pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode
mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e
extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por
isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais
que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao
outro --seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o
homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim
implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e
ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo:
quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se
de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o
destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de
alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora."
Um comentário:
A literatura muda o mundo. Se ele está certo? Certíssimo! Não tinha lido e agradeço, Pri! :)
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