Às 14h de uma tarde ensolarada, na
agência sem ar-condicionado do Banco X, a funcionária responde à
senhorinha grisalha que deseja atendimento que seu problema não será
resolvido porque o banco “tá sem sistema”. Já no Banco Y, o sistema
cobra mensalmente de minha conta uma taxa sobre um serviço que não
utilizo e, ao questionar a gerente sobre a cobrança indevida, e se não
há meio de interromper tais cobranças mensais, ouço um “não consigo, é o
sistema que cobra automático”.
Estas situações me fizeram refletir sobre
esse tal sistema, que no Banco X simplesmente desaparece, e deixa
centenas de clientes sem atendimento, e o sistema que, no Banco Y,
assume vida própria e faz as cobranças que quer, na hora que quer.
O título deste texto até sugere um
discurso anti-capitalista, anti-bancos, anti-FMI e anti-tudo, mas, na
verdade, caros leitores, há em si uma triste premonição sobre uma
geração de escravos dos sistemas criados por nossos próprios
especialistas.
Sistemas que abrem e fecham portas, que
fazem contas, que dirigem carros e que fazem medições. Já prevejo um
futuro amedrontador: sistemas que realizam cirurgias, que arrancam
dentes e gerem o destino das pessoas. Amanhã, o próprio sistema
levantará de sua mesa e virá ao meu encontro, na recepção, e me dirá
“não podemos atendê-la hoje, senhora, volte amanhã”, e sairei impotente,
como o fez hoje a senhorinha grisalha que encontrei pela tarde, e me
recolherei à minha insignificância de ser humano. De volta à minha casa,
o sistema que abre a porta não me deixará entrar antes do horário
programado, e o sistema que passeia com meu cachorro deixará que ele
escape, e eu o perca para sempre. Que triste esse futuro sistematizado.
Mais tarde, verifico o extrato de minha
conta e o valor cobrado pelo sistema com vida própria foi devolvido.
Pelo menos por mais esta noite posso dormir tranquila: a gerente venceu o
sistema. Por enquanto.
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