“O amor nunca falha, e a vida não falhará enquanto houver amor”
(Henry Drummond)
Certa vez, numa estação de trem de uma grande cidade turística em
algum lugar do mundo, ouvi um homem esbravejar contra um grupo de turistas
norte-americanos proferindo palavras de ódio contra uma nação e contra todo um
sistema. Seu ódio era escancarado sobre os trilhos da estação, lançado à
queima-roupa sobre a cara das pessoas que mal compreendiam a origem de sua
fúria. Um ser humano acuado, machucado e marcado por uma ideologia extremista
que culpa e condena o outro por seu “suposto” sofrimento.
Também vejo, quase todos os dias,
na internet e na TV, discursos de ódio proferidos contra homossexuais, contando
com ameaças e xingamentos de todos os níveis. Afrontas e ameaças a toda forma
de amor, cumplicidade e compreensão do ser humano. Quisera eu compreender o
ódio crescente nos corações amargurados dos proclamadores do ódio. E,
infelizmente, a legião dos odiadores
apenas cresce.
Odeiam, inclusive, o cabelo Black
das crianças, subjugando-as à ditadura dos cabelos lisos à chapinha, padrões insignificantes e destruidores de toda uma
identidade. Juntamente com o cabelo, poda-se o ideal, a originalidade e a raiz,
que enfraquece, enfraquece, e sucumbe até a total extinção.
Ódio sem fundamento, alimentado
por opiniões diversas e adversas sobre qualquer coisa, mínima que seja. Ódio
propagado e transformado em violência, física e verbal, e que toma espaço
atropelando o bom senso, a dignidade e a vida do próximo.
E assim, aos poucos, a atmosfera
pesada vai tomando lugar na paisagem cotidiana da humanidade, que caminha a
passos largos para o precipício da intolerância e incompreensão, com
tecnologias de ponta e mentalidade de grão de feijão. Uma vez, aquele
carequinha sábio* que faz discursos bonitos disse: “Um covarde é incapaz de
demonstrar amor. Isso é privilégio dos corajosos”. Mal sabe ele que nossas
crianças estão crescendo em meio à covardia, à incompreensão e ao ódio. Ou
talvez ele saiba, mas acredite tão piamente no ser humano, que seu amor, um
dia, contaminará os corações dos que passarem por seu caminho.
Talvez ele acredite na flor feia
de Drummond, que fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio**. Eu tenho as minhas
dúvidas, mas vejo, ainda, a flor tímida germinando nas falhas deste asfalto
quente pelo qual caminhamos dia após dia. Diariamente mantenho os olhos fixos,
cuidando para que não a maltratem, afinal, se ela furar o ódio, estaremos
salvos!
*Mahatima Ghandi
**
Poema A flor e a náusea, de Carlos Drummond de AndradeTexto publicado na Revista Escrita Pulsante
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