O Flâneur do século XXI

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Foto: Silke Schüle

Um dia desses, quando estava a caminho de um compromisso para o qual cheguei horas mais cedo, sentei-me num banco e abri o livro que trazia comigo. Mas eu não queria ler. Então, limitei-me a apenas sentar e observar as pessoas que passavam. Isto me trouxe à mente, de repente, o conceito do Flâneur, que aprendi nas aulas de literatura através das figuras inesquecíveis pintadas por Baudelaire e Poe, e estudadas pelo alemão Walter Benjamin. Estaria eu praticando a arte de "flanar"?

Mais tarde, ao chegar em casa, fui ler um pouco do que havia sobre essa figura especial e tão inspiradora nascida da Paris do século XIX, e encontrei um texto chamado "A segunda morte do Flâneur".

O primeiro Flâneur "morreu" depois da transformação total da antiga Paris do século XIX, com a construção das grandes praças, o crescimento do tráfego de automóveis, a construção das grandes lojas de departamento, o embrião da vida nas grandes cidades como hoje conhecemos.

A partir do final do século XX, o artigo sugere o aparecimento de um novo Flâneur: o Flâneur cibernético, ou da internet. Ele surge juntamente com o boom da internet nos anos 90, como um explorador de novos ares, que navega despropositadamente pela web em busca de inspiração e coisas interessantes. Mas, este segundo flâneur também não consegue sobreviver e, segundo o artigo, também sucumbe à modernidade.

"Transcendendo sua brincalhona identidade original, a rede não é mais para passear - virou lugar de cumprir tarefas. Ninguém mais navega. A popularidade dos aplicativos - que conduzem àquilo que queremos sem que seja necessário abrir o browser, faz do flanar on line algo cada vez menos provável." [Trecho do artigo].

O artigo ainda aponta os monstros da web, google e facebook, como os maiores inibidores do ato de flanar, pois estes dois sites têm como objetivo uma "socialização" geral e até exagerada do conteúdo que circula pela web, não permitindo mais que se possa fazer coisas individualmente.

Apesar de ser um texto extremamente interessante e que nos coloca em posição de reflexão sobre este possível (porém, já falecido) flâneur cibernético, ainda acredito que haja flâneurs (físicos) espalhados pelas grandes metrópoles, no meio dos carros, dos edifícios cinzentos, ou mesmo do calçadão de uma bela praia do Rio de Janeiro, ou tranquila da Bahia, por exemplo. O Flâneur moderno talvez não tenha consciência do ato de flanar, mas provavelmente ainda o faz porque o espírito observador, curioso e perspicaz do Flâneur já se encontra dentro dele.


 

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