Você acorda com o sol
entrando por entre as frestas da janela da pousada estilo colonial em que está
hospedado, toma o seu café da manhã, confere o programa e parte pelas ruas de
pedra da histórica Paraty para a primeira palestra do dia. Antes, uma olhadinha
rápida no mar que se estende por detrás da tenda gigantesca, que só não é tão
grande quanto o azul do mar. Este é o clima da Festa Literária Internacional de
Paraty. E, a meu ver, este é o clima ideal para se discutir literatura e arte. E
arte é o que não falta: artesanatos indígenas, pinturas, ateliês, autores
independentes, declamação de poemas a 1 real, etc. Paraty transforma-se num
grande circuito de arte.
Esta foi a décima edição da Festa e a primeira que tive a oportunidade de participar. Presenciar conversas de autores sobre seus livros e temas dos mais variados, desde política até flanêrie e criação de personagens, foi uma experiência muito interessante e importante enquanto um dos instrumentos de trabalho de uma pessoa formada em Letras, a literatura.
O público também é do
mais variado: professores, doutores, economistas, ou, quem sabe, engenheiros e
matemáticos, vai saber, a FLIP é democrática. Também entre estes misturam-se os
cultos, os poliglotas, ah, e também os barraqueiros e os “cultos” furadores de
filas de autógrafo. Também incluem-se os “cultos” que têm casa em Paraty e,
portanto, conseguem os melhores lugares nas melhores mesas, mesmo que o assunto
não lhe importe nem um pouco, o importante é ter uma casa em Paraty.
Paraty também fica
glamourosa nas jovens que se aventuram com saltos agulha pelas ruas de pedra,
nas senhoras elegantemente vestidas para as palestras noturnas, e escuta
atentamente um autor que insinua que sua obra e seu sucesso nasceram
acidentalmente, e que o mais importante é observar os pássaros (Jonathan Franzen).
Ainda bem que autores como Alejandro Zambra, Teju Cole, Ian McEwan e Jennifer
Egan elevam o patamar das discussões e mostram, com grande profissionalismo e
inteligência, que literatura é feita de estudos, reflexões, background cultural
e muitas outras coisas mais importantes que glamour e piadinhas sem graça.
Quer um ótimo roteiro
para aproveitar o melhor da FLIP? Acorde cedo, tome um ótimo café da manhã,
saia devagar, apreciando a arquitetura de Paraty, assista à primeira palestra.
Logo após, procure o mar, e procure a mesa sob a sombra mais convidativa, peça
uma cerveja, e beba, em frente ao mar. “O resto é literatura.” *
*Frase de Alejandro
Zambra em Bonsai.
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