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Breve reflexão sobre o filme "Romance", de Guel Arraes, e a duração das paixões

sexta-feira, 15 de abril de 2016

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo" (Cazuza)

Paixões duram no máximo três anos, diz o personagem de Wagner Moura, Pedro, no filme Romance (2008), de Guel Arraes. 

Com o enredo desenvolvido em torno da encenação da história mítica de Tristão e Isolda, Pedro e Ana (Letícia Sabatella) vivem uma bela história de paixão, amor, encontros e desencontros. É interessante notar como as paixões são tratadas no decorrer do filme. A paixão de Tristão e Isolda, cujo final trágico leva, há séculos, milhares de leitores e espectadores às lágrimas, é utilizada como parâmetro para as discussões sobre amor e paixão em nossos dias. É preciso sofrer tanto por amor? Existem amores tranquilos? O amor entre Pedro e Ana nasce puro e apaixonante. Personagens que se encaixam e se completam, prontos para viverem o romance perfeito e duradouro dos sonhos dos seres humanos. Porém, Pedro, cético e pessimista, já nos alerta desde o início: paixões duram apenas três anos.

Fadados, então, à falência do amor e à deterioração da paixão, Pedro é consumido pelo ciúmes (da carreira e da pessoa de Ana), e, como personagem de romance que é, insatisfeito com o mundo à sua volta (o herói romântico de Lukács), põe fim à história que o espectador tanto almeja que tenha um final feliz.

Por que seria tão difícil acreditar que haja amor eterno? O amor compartilhado, cultivado e alimentado pode crescer e se multiplicar, e durar. Nós, descrentes de paixão e confiança no outro, colocamos limites e barreiras. Sem querer, criamos histórias paralelas para preencher o vazio que o outro nos deixa com a sua ausência, inclusive histórias destrutivas. Muitas vezes nós mesmos ocasionamos a ausência, como acontece no filme, com o aparecimento de Orlando, personagem de Vladimir Brichta, pelo qual Ana se apaixona na ausência de Pedro em sua vida.  

E as histórias paralelas não duram, ao contrário, retomam vestígios do amor antigo,  buscando semelhanças para confortar a falta e tentar sobreviver. Histórias paralelas e, no entanto, ainda repletas de vida e de plenitude, mas que não são o enredo principal. Somos heróis de um romance boicotado por nossa própria descrença e insatisfação com o mundo e com o outro. Não aceitamos as diferenças, não compreendemos a diversidade e não discutimos mais a relação. Nossos heróis favoritos sofrem há séculos por amor, e assim seguimos, também sofrendo. Mas há uma imensa diferença entre nossa geração e a de nossos heróis: criamos nossas próprias barreiras e impedimentos; muros erguidos entre nosso coração e o mundo, na tentativa de nos protegermos da dor. Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Iracema e Martin, e Jack e Rose no cinema. Cantamos canções tristes, cuja beleza e sentimento comovem e causam empatia, mas não nos refletem mais.

Em tempos de “amor líquido”, fazendo referência ao sociólogo mais citado em nossa atualidade, Zygmunt Bauman, a impressão que temos é que não existem mais bases sólidas para se construir um amor duradouro. E não há paciência, nem compreensão, nem mesmo vontade de compreender. Se paixões duravam três anos, em tempos de liquidez, duram três meses: às vezes intensos, por vezes marcantes, às vezes inesquecíveis e não vividos plenamente, deixando-se cair nas histórias tristes de amores não amados. Nossas histórias se desfazem em prantos e poemas mal escritos de gaveta. São raras as histórias de amor em tempos de liquidez, mas são muitas as histórias de paixão avassaladora. 
A bela reflexão que o filme “Romance” nos traz transita entre as paixões dos homens e das artes. 
 
Somos apaixonados por histórias, por imagens, por acontecimentos, pela vida. Ao final, mais uma história de amor é escrita em meio ao sofrimento das personagens, um clichê daqueles que amamos, e ainda esperamos por um final feliz. Sempre há esperança no amor, e, em tempos de amores instantâneos e paixões sem alicerces, esta é o que ainda nos faz seres humanos!
 

Manhê, tô no youtube! :D

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O canal Dance Escondida, do Youtube, fez uma entrevista com a equipe do projeto Revista Escrita Pulsante. Clica ae! :D


A expressão pela arte

sexta-feira, 31 de julho de 2015

A arte expressando a nossa realidade à queima-roupa! As imagens foram retiradas do Facebook, sem autor conhecido!





O grande consultório chamado Terra

terça-feira, 30 de junho de 2015

Talvez o mundo tenha se transformado em um grande consultório psiquiátrico, e eu não tenha percebido. Textos de autoajuda proliferam em minha timeline, nos blogues e até nos artigos de jornais. 
Preciso de um conselho para aliviar esta dor de coração partido. Preciso aprender a viver. Se eu deixar de dar valor às coisas materiais, vou começar a ser feliz. Viaje. Como é que faz para ser feliz? Passaram-me a receita, como se fosse a de um bolo de forno. Mas você seguiu a receita direitinho? Sim, sim! E não está feliz? Como faz? E esta busca incessante do ser humano por felicidade aumenta a cada dia, hoje ainda mais. Não há regras. Não há muita complicação. Siga o conselho do Buda, aqui, e seja feliz!


Ah, Clarice!

sábado, 25 de outubro de 2014

"Você na certa deve ter me conhecido num momento em que eu estava cheia de esperança. 
Sabe como eu sei? Porque você diz que sou linda. Ora, não sou linda. Mas quando estou cheia de esperança, então de minha pessoa se irradia algo que talvez se possa chamar de beleza."

(Texto "Adeus, vou-me embora")

Ah, sua linda!!!

Extra! Extra!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Está pronta a primeira edição da revista Escrita Pulsante, da qual faço parte juntamente com uma galera engajada em jornalismo cultural e de cunho social. Ainda está tímida, mas tem planos grandiosos de crescer e se tornar muito lida por quem preza por uma escrita mais "pulsante", "na veia".

Abaixo está o editorial de apresentação da revista! Quem curtir, passa lá ;)


A escrita pulsa nas ruas. Pulsa também nas horas, minutos e segundos dos nossos dias. Pulsante também segue o jornalismo desta revista, um projeto criado para oferecer outros olhares sobre cultura e sociedade, ou outros pontos de vista carregados de sensibilidade e crítica.

As mãos conduzem a escrita e a escrita é pulso firme diante do universo de histórias presentes no dia a dia das pessoas. Cada lugar com seu tempo, identidade, referência, momento político, confusão e solução, assim como o humano e seu dia na vida. Vida que se revela ou se esconde no correr da história, algumas partilhadas em nosso convívio diário, outras não.

Para além de uma escrita pretensiosa de iluminação, a Revista Escrita Pulsante interessa-se pelo obscuro das histórias e quer nela permanecer. O deslocamento para o acontecimento coloca-nos em face da investigação; a descoberta impulsiona enredar as histórias da fala, as histórias dos silêncios que existem nos fatos e não fatos. Assim, este será um lugar de reflexão, no qual pulsará a vida em todas as suas formas, constituindo, assim, as páginas desta revista.

Otto me representa!

terça-feira, 20 de maio de 2014

“O que eu vejo é uma politicagem, uma sabotagem em cima desse governo, algo que eu sinto desde o primeiro governo de Lula. Eu morava no alto Leblon quando Lula ganhou. Era só eu e mais dois apartamentos gritando e o resto calado”, disse Otto, que ainda declarou que é impossível andar pelo país e não notar a mudança. “Eu que ando pelo Brasil vejo que a gente nunca teve uma situação melhor. Mas tem pessoas que não aguentam ver o pobre garantir mais coisa”

 

De Drummond a Baudelaire

segunda-feira, 24 de março de 2014



O olhar e o toque dos amantes em preto e branco. O abraço. Os olhares.

Como diz Drummond no poema “Amar”: “que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?”. O poema se funde às imagens registradas pela Diretora e Roteirista Raquel Gomes que, através de seu olhar sensível e aguçado para o belo e, ao mesmo tempo, para o inóspito, transforma o poema em vida: o contato com a pele. Este é o caminho do amar, do clímax, do êxtase. A imagem da bomba de hidrogênio, símbolo de destruição também significa potência e gozo. A ressignificação do ícone do que há de mais destrutivo já construído pelo homem, aqui, diretamente relacionado à explosão do ato de amar. Mas, no final, amar não é morrer um pouco a cada gozo? Pode-se morrer de amor? De amar?

Mais adiante, surge Baudelaire, “Parece que todo ouro do pobre mundo veio parar nestas paredes”. E o diálogo continua. A pele como elemento central e conector, o elo entre Drummond e Baudelaire captado pelo olhar de Raquel. Talvez todo o ouro do mundo esteja sim, nestas paredes macias, embaladas pela trilha sonora calma dos amantes. Talvez todo o ouro do mundo esteja no outro. E talvez, depois que percebermos isto, não precisemos de nenhum outro ouro.

O blog da cineasta Raquel é este: http://raquelcinema.blogspot.com.br/


Sobre dignidade e cidadania

sexta-feira, 7 de março de 2014

Os foliões este ano pulam em meio ao lixo que eles mesmos produzem. Olham com nojo e repulsa, mas não conseguem estender o braço e jogar o lixo na lixeira. As ruas amanhecem cheias de lixo porque não têm quem os limpe. "Garis em greve, que absurdo!" A solução? Demitam todos e contratem outros, que precisam mais e não reclamarão do que ganham, que já é mais que o suficiente. Só que não. Os discursos se misturam entre os indignados com as reivindicações da categoria, muito justas, ao meu ver, já que seu trabalho é pesado (o trabalho que ninguém quer fazer), os que compreendem que o trabalho árduo sob o sol de quase 45 graus do Rio de Janeiro é castigante, e os indiferentes, que nem ao menos notam a presença diária destes trabalhadores em nossas vidas. Abaixo segue o link de um texto muito bacana sobre o assunto, de Renata Lins, do blog Chopinho Feminino. Vale a pena a leitura!

Foto: Ale Silva / Futura Press / Estadão Conteúdo



É Natal!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

É Natal em São Paulo. Não é Natal em Kiev, a capital ucraniana em clima de protestos. Na Alemanha é Natal com direito a Weihnachtsmärkten. Na casa de minha amiga é Natal com ceia chique e bebê novinho, acabado de sair do forno. Na minha casa é Natal com árvore branca e vermelha, da cor da roupa do bom velhinho. Um Natal normal. Mandei presentes a 3 crianças dizendo que eu era o Papai Noel, e talvez estas crianças nem acreditem, e talvez me achem uma tonta. Na empresa é Natal de produção. Na África do Sul é Natal sem Mandela, uma grande perda. E são tantos lugares, e tantas pessoas, e tantos natais, em uma só data. E tantos sonhos, que seria necessária uma legião de bons velhinhos para dar conta. Se o mundo acreditasse neles.

O filme "Eu Maior" e a eterna busca do ser humano

domingo, 1 de dezembro de 2013

Quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Como preencher estes dias repletos de horas e de acontecimentos e de pessoas e de pensamentos? "O que importa não é a estação, mas sim como você faz a viagem", diz um dos entrevistados do filme, o filósofo Mário Sérgio Cortella. E, de fato, a única certeza do ser humano é a morte, o que faz de nós mortais conscientes de que a vida é uma passagem. Então viva. A política Marina Silva diz que, se fôssemos felizes o tempo todo, não saberíamos o que é felicidade. A ignorância é felicidade? Não perguntar é ser feliz? Adianta perguntar? Ser humano é ser feliz? Você achou as respostas? Você sabe as perguntas [certas]? Eu não. E Marina está certa. Assim como também estão certos os que dizem que a felicidade está nas pequenas coisas, nos pequenos instantes importantes e passageiros, "o resto é memória", como diz a Monja Coen. Em uma coisa todos os entrevistados concordam, cada um à sua maneira e conforme a sua realidade: é necessário conhecer a si mesmo, para descobrir, então, o que é importante para você, o que é você, o que te faz "ser" entre tantos seres, o que é a sua felicidade. Este filme é sobre mim, sobre você, sobre todos nós e a nossa eterna busca, vale a pena a bela reflexão!
Assista na íntegra aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=V0gquwUQ-b0

Pátria amada, Brasil! Parte II

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Que o Brasil tem andado muito bem relacionado (e ranqueado) em relação à economia mundial, todos nós temos muito ouvido falar nos últimos anos. Mas isto não significa que alguns dos nossos problemas estruturais básicos, e que têm nos acompanhado há séculos, tenham sido por fim resolvidos. É basicamente disto (e de outros assuntos tão graves quanto) que trata o discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, um dos maiores eventos da área editorial no mundo, e que agora também terá a participação brasileira. Palmas para o Ruffato, que mostrou lá fora que nossas praias e belíssimas paisagens naturais escondem, ainda, muita desigualdade, miséria e injustiça.

Seguem alguns trechos do discurso e o link do Estadão, com o discurso completo! :)

"(...) Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo --amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.
Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos...
Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro --seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual-- como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora."

Sobre infância!

sábado, 28 de setembro de 2013

"(...) a infância de Geraldo Viramundo transcorreu como a de seus irmãos. Como seus irmãos ele comeu terra, botou lombrigas, arrebentou cupim para ver como era dentro, seguiu as formigas para ver aonde iam, misturou açúcar com sal no armazém, furtou garrafa de guaraná e depois mijou dentro botando no lugar para o pai não descobrir, brincou com fogo e mijou na cama, brincou de pegador, tic-tac carambola, este dentro e este fora, matou passarinho com bodoque, enterrou ovo choco e fez fogo em cima para ver se nascia pinto, foi mordido de marimbondo e ficou de cara inchada, amarrou lata vazia em rabo de gato, fez galinha dançar em cima de lata quente, contou com o ovo no rabo da galinha, enfiou o dedo no rabo dela, teve sarampo, catapora, caxumba e coqueluche, pegou sarna para se coçar, correu de boi bravo, botou cigarro na boca de sapo para ele fumar até rebentar, se escondeu na cesta de roupa suja para ver a irmã mais velha tomar banho, quis pegar a irmã mais nova e depois teve remorso, perdeu a virgindade numa cabrita, fugiu de casa e apanhou e por isso tornou a fugir e por isso tornou a apanhar, construiu casinhas de barro, caiu da árvore e se machucou, comeu manga com leite e adoeceu, contou as estrelas do céu e ficou com berrugas, pegou carona em caminhão, aprendeu a ler na escola, fez do travesseiro o corpo da professora, teve medo do João Carangola que fugiu da prisão e gostava de menino, assobiou e chupou cana ao mesmo tempo, fumou cigarro de chuchu, fez coleção de favas, foi à missa aos domingos, assistiu fita de Tom Mix, Buck Jones e Carlito no cineminha da cidade, apanhou bicho-de-pé, pisou em urina de cavalo e ficou com mijacão, armou arapuca no mato, jogou futebol com bola de meia, teve dor de dente de noite, foi coroinha na igreja, contou quantas vezes fazia coisa feia para se lembrar na confissão, procurou não mastigar a hóstia para que não saísse sangue, fez flautinha de bambu, ficou preso pela piroca num gargalo de garrafa, molhou o pijama de noite e teve medo de estar doente, ficou com pedra na maminha e perguntou à mãe o que era, se apaixonou pela filha mais velha dos italianos do empório, tirou o cavalinho da chuva, pensou na morte da bezerra, chorou escondido, teve medo, descobriu que o céu era imenso, teve vontade de morrer, ficou acordado de madrugada ouvindo o galo cantar sem saber onde, sentiu dores nos culhões, comeu a negra Adelaide e virou homem."

(Trecho de "O Grande Mentecapto", Fernando Sabino) - em homenagem a Cosme e Damião, um trecho muito bonito sobre uma infância de verdade, coisa rara hoje em dia!!!




Mais poesia nas suas tardes!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Se você gosta de poesia e adora passar horas no Facebook, nós temos um convite pra você! 
Curta a página Tarde em versos e receba, todas as tardes, versos e poemas selecionados com o único intuito de trazer mais poesia às nossas tardes, seja no trabalho ou em casa!

O Tarde em versos é um projeto coordenado por mim, pela Giovanna, que escreve no Silence Reports, e pelo Ricardo Santana!


Vejo vocês por lá! ;)

Jornalismo e filosofia no filme "Hannah Arendt"

segunda-feira, 12 de agosto de 2013


O filme Hannah Arendt está em cartaz em alguns cinemas do Brasil e faz um recorte de um evento muito importante na vida da filósofa: sua participação no julgamento, em Jerusalém, do nazista alemão Adolf Eichmann, como jornalista da revista New Yorker, com o propósito de escrever um artigo com a cobertura do julgamento. 

Eu pretendia escrever algo sobre as ideias de Hannah expostas no filme, inclusive sobre o pensamento da própria Hannah ao final do julgamento, a conclusão a que chegara, etc, mas encontrei uma bela resenha do filme, que contém ainda embasamento filosófico, então, deixo-a aqui com vocês. Apenas gostaria de comentar aqui algo que me chamou a atenção na postura de Hannah, que, mesmo tendo recebido a função de jornalista, discorreu filosoficamente sobre os fatos do julgamento, sobre a conduta de Eichmann, sobre a postura da comunidade judia, e, ao final de tudo isso, deu origem a mais uma linha de estudo de seu pensamento, a qual chamou de  "banalidade do mal". O filme é muito interessante, mesmo para aqueles que não são muito fãs de filosofia [o que definitivamente NÃO é o meu caso ;)]

O texto é integralmente copiado da Revista Pittacos - a autora é a Maria Aparecida Abreu!

HANNAH ARENDT – A Banalidade do Mal : Pensamentos a partir do filme

É difícil não sair seduzido do filme Hannah Arendt de Margarethe von Trotta. O objeto do roteiro é uma parte da vida de sem dúvida um dos indivíduos mais extraordinários do século XX. Antes de ver o filme, estava preocupada com duas coisas: uma banal, a falta de semelhança física entre a atriz escolhida, Barbara Sukowa, e a autora biografada, além da dificuldade de transmitir a densidade facial e corporal de um ser em estado de pensamento sem recorrer a caricaturas; e outra mais importante, sobre como um filme relataria um dos momentos mais relevantes e brilhantes da vida e da obra de Arendt, que é a passagem de uma concepção de “mal radical” – adotada desde As Origens do Totalitarismo (1949), e de inspiração kantiana -  para a de “banalidade do mal”,  expressão cuja elaboração isolada provavelmente já daria a Arendt um lugar entre os grandes autores de seu século.

O filme é muito bem sucedido. A começar pelo recorte escolhido. O relato do julgamento de Adolf Eichmann (1961) é uma das partes mais instigantes da obra de Hannah Arendt e o evento, em si, muito bem apresentado com a alternância de imagens de documentário – o verdadeiro julgamento – e a ficção – a relatoria narrada – foram a escolha correta para manter até mesmo o espectador leigo atento aos detalhes. Além disso, a importância de personagens históricos que tiveram influência intelectual e pessoal na vida de Hannah – especialmente Mary McCarthy, Heinrich Blücher, Hans Jonas e Martin Heidegger, é sugerida de forma bastante fiel à realidade, pelo menos tal como relatam suas biografias.

Todo este recorte acertado permite que a sedução da inteligência e da coragem desta intelectual que deixou sua marca no pensamento político ocidental se realize sem grandes resistências. Estamos diante de alguém extraordinário, sem dúvida. E esse alguém é uma mulher, uma das poucas que figuram entre os grandes dos novecentos. Ao lado dela, provavelmente, Simone de Beauvoir.

Seduzidos, então, mergulhamos nos fatos que levaram a autora a abandonar uma interpretação de que um dos conceitos que ajudaria a compreender o totalitarismo seria o de “mal radical”, tal como sugerido nas Origens do Totalitarismo. De acordo com este conceito, a prática do mal por um indivíduo – tal como Kant já indicara – dependia de um desvio de sua vontade, incapaz de legislar de forma afinada com regras que valeriam para toda a humanidade – o imperativo categórico – e capaz de cometer qualquer atrocidade, desconsiderando inclusive o mais intuitivo dos mandamentos da vida social, o “não matarás”. Esta concepção de mal radical era o que parecia explicar o que estava por trás dos crimes contra a humanidade. Todos, e principalmente os judeus, acreditavam serem os nazistas monstros. Não por acaso – e o filme destaca isto precisamente – o acusado é exibido no julgamento em uma jaula de vidro.

Não. Não se tratava de um monstro. Não se tratava de um psicopata ou canibal que a qualquer momento poderia voar sobre alguém da plateia, ainda que esse alguém tivesse traços judeus. Hannah Arendt é certeira: ele nem mesmo era antissemita, muito menos um assassino sanguinário. Era apenas o mais fiel obediente às leis. O desvio que o acometia, portanto, era sua incapacidade de questionar a razoabilidade, a legitimidade, a justiça e a humanidade dessas leis. Arendt sentencia: seu problema, e de todos os outros burocratas nazistas, era a incapacidade de pensar. Sem a força corrosiva e desconstrutiva do pensamento, qualquer ação é possível, qualquer lei pode ser racionalmente justificada.

E agora desenvolvo uma ideia que, tenho a impressão, está na obra de Arendt, mas não no filme. A partir do momento que os crimes contra os judeus eram cometidos em razão da incapacidade de pensar de boa parte de seus agentes – não estão incluídos entre eles, claro, o führer e a alta cúpula nazista –, o sucesso da dominação pretendida com a estrutura burocrática montada pelo sistema totalitário estava garantida. Se o sistema necessitasse de muitos monstros, provavelmente não os encontraria. É justamente porque a Solução Final poderia ser colocada em prática por seres humanos comuns é que o sistema pôde adquirir as dimensões que teve. Daí a banalidade do mal abranger dois aspectos: o primeiro, bastante abordado no filme, é o da premissa de que os seres humanos são supérfluos. O outro, que acredito não ter sido muito bem explorado, é o de que é quando temos um sistema – e não seres humanos – estruturado para a prática do mal é que ele pode se espalhar e, se não contido, abranger toda a humanidade. Nesse sentido é que o mal banal é “superficial”, não é radical. E justamente por isso ele é muito mais perigoso, porque, aparentemente, sob a sua influência, as pessoas estão agindo de forma racional e, acima de tudo obediente.
Então, se Adolf Eichmann não era um monstro, o que era? Um burocrata, um ninguém, um palhaço, que era capaz de afirmar, de forma sincera, sem qualquer pejo ou embaraço, que suas ações nada tinham a ver com a morte dos judeus: eles morreriam, com ou sem ele.

A capacidade de Hannah Arendt sair de sua condição de judia e enxergar o que ninguém até ali tinha visto é admirável, ainda mais quando consideramos a reação, inclusive de amigos, que ela teve de enfrentar. Reação cuja melhor resposta dada pela autora foi: ela procurou compreender[1] o que estava ocorrendo e compreender não é perdoar. Em busca de compreender, Arendt sai de si e é capaz de pensar radicalmente.
Até aqui o brilhantismo de Arendt é inegável. No entanto, houve outro ponto polêmico de seu relato: o fato de ela ter questionado o comportamento de algumas lideranças judaicas durante o nazismo. Este questionamento soou para os leitores judeus como uma atribuição de corresponsabilidade pelos crimes nazistas. Em resposta a isso, ela sofreu a acusação de ter pouco amor pelo povo judeu, o que no filme foi, de forma comovente, expressada por um de seus melhores amigos, Kurt Blumenfeld, em seu leito de morte, em Jerusalém, à qual Arendt respondeu que nunca havia amado povo algum, nem mesmo o judeu. Ela amava seus amigos. Esse era o amor de que era capaz. Hannah Arendt está completamente coerente com seu pensamento. Seus atos refletem bastante suas ideias. Para ela, amor é um sentimento da esfera privada, reservada às relações mantidas nessa esfera.

Hans Jonas, de forma mais cruel, mesmo após a aula pública dada por Arendt com o objetivo de explicar o que queria dizer com a “banalidade do mal”, atribui o erro de julgamento de Arendt à sua arrogância, falta de conhecimento dos assuntos do povo judeu e à sua fidelidade intelectual a Heidegger.

Minha interpretação é a de que talvez os judeus estivessem parcialmente corretos nessa segunda cobrança. Hannah Arendt procurou tanto compreender Eichmann, e teve uma impressionante lucidez nessa tarefa, que talvez não tenha compreendido a atuação dos judeus. Não porque não amasse seu povo, talvez sim por sua fidelidade a Heidegger, embora não naquilo que provavelmente Hans Jonas estava sugerindo – antissemitismo e descompromisso com a realidade por um excessivo compromisso com o pensamento -, mas pelo seu desprezo, manifestado várias vezes ao longo de sua obra, pela sociologia. Munida do instrumental já então erigido por Weber em suas formulações sobre a sociologia da dominação, seria provável que ela percebesse que os judeus – não sei se como povo, ou se como grupo –, durante a dominação nazista, agiram como os dominados agem quando buscam a sobrevivência: aderem à lógica e às regras do dominador, muitas vezes internalizando-as. Pode-se não admirar alguém que age de acordo com os ditames da sobrevivência. No entanto, da mesma forma, não se pode exigir desse alguém conduta diferente. Mas, ao que parece, isso não foi reivindicado da autora naquele momento, só décadas mais tarde, ao longo da recepção de sua obra.

[N.A. 1] A palavra em inglês é understanding, que nas legendas do filme foi traduzida por entender. Mas como entender remete a atividades da razão e, na obra de Hannah Arendt, isso adquire outro sentido, vou adotar aqui a tradução consagrada – compreender.

Mundo, mundo, vasto mundo... Considerações sobre a Chapada Diamantina, e sobre imensidões!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013


Definição de Chapada pela Wikipédia: Chapada é uma formação geológica acima de 600 metros que possui uma porção plana na parte superior.
A Chapada Diamantina fica no coração do sertão baiano, um "oásis no sertão", como brincam as propagandas. Uma região linda de viver e de se ver. Fomos acolhidos em Lençóis, pequena cidade com casinhas simples e antigas, um pequeno centro histórico bastante movimentado e muita gente boa. Quando digo que fomos acolhidos, na verdade estou querendo dizer "muito bem acolhidos". Em Lençóis, encontramos muita gente legal e disposta a conversar e fazer amigos, desde os turistas mais animados até os moradores locais e donos de agências e pousadas. Foi uma experiência única e posso dizer que foi a melhor que já tive por aqui, em terras tupiniquins. A Chapada Diamantina é um Parque Nacional protegido e gigantesco, com muita coisa bonita pra ver. Sempre haverá motivo para outras visitas.
A imensidão das montanhas, cachoeiras, e a dificuldade das trilhas impressionam e nos mostram a força da natureza, tornando-se uma experiência incrível para quem nunca teve contato tão direto com uma paisagem tão imponente.
Tenho mais coisas pra contar, volto depois! 



Eis a questão!

terça-feira, 30 de julho de 2013

"O que é que se consegue quando se fica feliz? sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana.
- Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a com surpresa.
- Que ideia! Acho que não sei o que você quer dizer, que ideia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
- Ser feliz é para se conseguir o quê?"

(Clarice Lispector)

Que um dia consigamos descobrir este "o quê"!!! :)


Não é só por R$ 0,20, porra!

quinta-feira, 20 de junho de 2013


É pelos R$ 0,20 a menos no bolso do trabalhador;
É pelo desrespeito diário sofrido pelo trabalhador brasileiro todos os dias no transporte público;
É para os nossos governantes entenderem que fomos nós que os colocamos onde estão;
E é para que entendam, também, que o povo não pode nem deve ser ignorado, porque se for para ganhar no grito, 200.000.000 gritam muito mais que alguns centenas! ;)

Parabéns aos que participam das manifestações Brasil afora e não desistem!

PS: essa foto é tensa, mas muito bonita!




Viva la Revolución... or maybe not!

terça-feira, 11 de junho de 2013


Estou ouvindo muita gente dizendo que passagem de ônibus não é motivo para todo esse barulho, mas talvez este seja apenas o início: talvez a próxima manifestação seja contra este ou aquele Deputado ou Vereador safado da nossa cidade, talvez seja contra uma condenação injusta nos tribunais brasileiros, mas eu vejo um começo.

Dizem também que a classe média brasileira é a que mais paga por tudo no Brasil, desde impostos até o alto preço da violência. Pois é esta mesma classe média que eu vejo reclamando da manifestação do retrovisor de seu carro... enquanto ela ainda tem carro! Acho que tá na hora de mudar esse pensamento, né não?






Refletindo sobre a atual situação da fotografia

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Em nome de captar uma imagem, perde-se a beleza do momento"

Essa é a frase do fotógrafo Fábio Seixo numa entrevista sobre sua série fotográfica que tem como objeto a atual obsessão pela fotografia, ilustrando situações vistas em locais turísticos, museus famosos, paisagens, shows, etc. Eu já havia manifestado a minha indignação com máquinas fotográficas em shows neste post AQUI, e a entrevista do fotógrafo somente reforça a minha ideia: as pessoas estão deixando de assistir aos shows para gravá-los, filmá-los, ou ficarem tirando fotos viradas para o palco. Qual é a graça de ver um show pela telinha da sua máquina digital, por melhor que seja a resolução? Ainda estou tentando entender...
A reportagem completa é do Hypeness, e está AQUI!

Este é o vídeo do projeto!

 
 
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