Paisagem XXI - Desencanto em Paraty

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O homem que dirige a carroça conduzida pelo cavalo quebra o encanto da paisagem à beira-mar. O cavalo sangra, mas obedece. O homem não sangra, e muito menos se importa. Parado e pacífico, o cavalo aguarda o homem que lhe tira o peso das costas. Apressado e suado, o homem enrijece os músculos enquanto o cavalo relaxa. Ambos estão cansados, mas o homem não sangra. O que aconteceu com este homem que o deixou insensível à dor do animal, seu ajudante de todos os dias? O cavalo sangra enquanto aguarda a próxima ordem, pois deve obedecer ao seu dono. O homem e seu cavalo quebram o encanto da paisagem à beira-mar, e parece que só eu me importo.

Fotografando o espírito

quinta-feira, 19 de julho de 2012

E se as fotografias pudessem captar o nosso estado de espírito? O designer gráfico e artista espanhol Nacho Ormaechea faz montagens com  pessoas anônimas fotografadas pelas ruas, substituindo suas imagens pelo seu suposto estado de espírito. Nas fotos, vemos imagens ensolaradas em pessoas inseridas num cenário de inverno, e imagens nubladas em pessoas representando um estado de espírito mais taciturno, seja qual for o motivo do fotografado. É preciso sensibilidade e percepção do outro, para se pressupor o estado de espírito de uma pessoa. Às vezes deixamos tudo muito nítido, e o que o artista faz é exteriorizá-lo de uma forma muito criativa!
O artigo original é de Margarete MS, publicado na Obvious!




Mundo, mundo, vasto mundo... Considerações sobre a FLIP, sobre Paraty e sobre pessoas cultas e que se dizem cultas

quarta-feira, 11 de julho de 2012



Você acorda com o sol entrando por entre as frestas da janela da pousada estilo colonial em que está hospedado, toma o seu café da manhã, confere o programa e parte pelas ruas de pedra da histórica Paraty para a primeira palestra do dia. Antes, uma olhadinha rápida no mar que se estende por detrás da tenda gigantesca, que só não é tão grande quanto o azul do mar. Este é o clima da Festa Literária Internacional de Paraty. E, a meu ver, este é o clima ideal para se discutir literatura e arte. E arte é o que não falta: artesanatos indígenas, pinturas, ateliês, autores independentes, declamação de poemas a 1 real, etc. Paraty transforma-se num grande circuito de arte.

Esta foi a décima edição da Festa e a primeira que tive a oportunidade de participar. Presenciar conversas de autores sobre seus livros e temas dos mais variados, desde política até flanêrie e criação de personagens, foi uma experiência muito interessante e importante enquanto um dos instrumentos de trabalho de uma pessoa formada em Letras, a literatura.  

O público também é do mais variado: professores, doutores, economistas, ou, quem sabe, engenheiros e matemáticos, vai saber, a FLIP é democrática. Também entre estes misturam-se os cultos, os poliglotas, ah, e também os barraqueiros e os “cultos” furadores de filas de autógrafo. Também incluem-se os “cultos” que têm casa em Paraty e, portanto, conseguem os melhores lugares nas melhores mesas, mesmo que o assunto não lhe importe nem um pouco, o importante é ter uma casa em Paraty. 


Paraty também fica glamourosa nas jovens que se aventuram com saltos agulha pelas ruas de pedra, nas senhoras elegantemente vestidas para as palestras noturnas, e escuta atentamente um autor que insinua que sua obra e seu sucesso nasceram acidentalmente, e que o mais importante é observar os pássaros (Jonathan Franzen). Ainda bem que autores como Alejandro Zambra, Teju Cole, Ian McEwan e Jennifer Egan elevam o patamar das discussões e mostram, com grande profissionalismo e inteligência, que literatura é feita de estudos, reflexões, background cultural e muitas outras coisas mais importantes que glamour e piadinhas sem graça.


Quer um ótimo roteiro para aproveitar o melhor da FLIP? Acorde cedo, tome um ótimo café da manhã, saia devagar, apreciando a arquitetura de Paraty, assista à primeira palestra. Logo após, procure o mar, e procure a mesa sob a sombra mais convidativa, peça uma cerveja, e beba, em frente ao mar. “O resto é literatura.” *

*Frase de Alejandro Zambra em Bonsai. 

 
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