Sobre manuscritos

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Encontro meus rabiscos espalhados pela casa, empilhados sobre as prateleiras das estantes empoeiradas, são tantos, todos manuscritos. E então me pego a pensar sobre o quanto eles se tornam cada dia mais raros. Eles, os manuscritos. Não os meus, pois adoro escrever. Adoro riscar com a caneta sobre o papel branquinho, branquinho, e adoro riscar e escrever por cima, e, daqui a cinco minutos, riscar e escrever novamente. E caprichar na letra, embelezando a primeira maiúscula, apenas pelo prazer de vê-la belíssima sobre a folha...

Os manuscritos são tão ricos, mostram o que deveria ter sido dito, enviado, publicado, e que foi modificado no meio do caminho, porque não rimou, ou porque é muito explícito, ou simplesmente porque não se quer mais dizer aquilo...

E as cartas, escritas à mão, tão íntimas, tão cheias de sentimentos, em cada linha, em cada parágrafo, na saudação final... substituídas tão cordialmente pelo e-mail, comunicação rápida, backspace, enter, pronto, att, Priscila. Cadê a intensidade, a marca dos dedos na folha, o cheirinho do papel de carta... A propósito, eu ainda tenho papéis de carta.

Grandezas

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Ela sente que há algo extraordinariamente grande prestes a acontecer,
e espera, tranquilamente,
desviando das pedras no caminho,
das pessoas de má fé,
e de suas próprias limitações...

...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

"Agora não há outra música senão a das palavras, e essas, sobretudo as que estão nos livros, são discretas, ainda que a curiosidade trouxesse a escutar à porta alguém do prédio, não ouviria mais do que um murmúrio solitário, este longo fio de som que poderá infinitamente prolongar-se, porque os livros do mundo, todos juntos, são como dizem que é o universo, infinitos."

(José Saramago, in Ensaio sobre a Cegueira).

"Pão e Circo"

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Tá bom, não vou falar mal da Copa do Mundo,
também não vou falar mal da seleção brasileira.
É sério, não vou...
Eu torço para o Brasil, sempre, com ou sem copa, sempre torci!
Só queria dizer que eu gosto muito de copa do mundo.
E gosto ainda mais da "democratização da copa do mundo",
que acontece todos os dias, lá no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.
É mais ou menos assim: dois telões, palco, pessoas passando...
outras pessoas nunca passam, estão sempre por lá, 
outras passam, andam, andam, e voltam pra lá...
É a democratização da copa do mundo...
eles não têm tv, não têm corneta barulhenta, ah, também não tiveram almoço hoje,
mas o Brasil tá jogando, senta aí, vamos assistir... todos juntos... em verde e amarelo...

Regue as suas flores

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Ultimamente não tenho regado a minha flor preferida, e nem percebi que, a cada dia, esta me parece mais e mais murcha... é preciso regar as flores, todos os dias, religiosamente...

Paisagem VI - Menino

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O menino permanece quieto, em posição de defesa. Atacam-no por todos os lados, ele não sabe de onde vêm os golpes. Ela olha, apenas olha, pois nada pode fazer contra tantos loucos, furiosos, todos à caça por diversão, não mais por sobrevivência.
Uma vez lera em alguma revista que o homem é o único animal que mata a sua própria espécie. Até então, ela não acreditara... até então.

Sobre coisas que não mudam

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ao contrário do que tenho dito em alguns posts anteriores, algumas coisas não mudam, e, anos depois, encontramo-nas exatamente como as deixamos. E eu gosto disso.

A moça do colégio que tinha os cabelos mais compridos da escola ainda os mantêm abaixo da cintura, e eu me pego a admirá-los, no ponto de ônibus, exatamente como fazia naquela época. 

O homem que comprava cartelas de bingo (conhecido por todos como "o homem do bingo") sai da loja onde trabalhei há quase dez anos... ele ainda carrega as cartelas de bingo, 5 blocos, para ser mais exata. Provavelmente chegou com sua caneca encardida, cheia de moedas, a cara sempre fechada, de poucos amigos, deixou as moedas com a "moça do caixa" (quando ainda não éramos chamadas "operadoras de caixa"), e esperou, inquieto. Suas unhas ainda devem ser grandes, também como naquela época, só os seus cabelos insistem em marcar a rigorosa passagem dos anos, estão cada vez mais brancos...
 
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