Pela noite adentro

sábado, 26 de março de 2016

Foto retirada do site Globo.com

Eu sempre notei as transformações que ocorrem noite adentro nos rostos maquiados das moças e nos perfumes requintados dos rapazes a procura de diversão, álcool, música e descontração. Era assim que eu também, participava eufórica e curiosa, em busca de sensações que somente a noite pode oferecer. Ontem, no entanto, talvez em virtude de meus trinta e tantos anos, eu percebi a outra face da noite: os locais antes preenchidos com pernas, transeuntes, cachorros, agora davam lugar a cobertores e corpos amontoados no canto, junto à parede, na tentativa de se esquivar dos ventos da noite. Uma moça bem vestida parou e ficou um tempo conversando com os que ali amontoados estavam, talvez oferecendo ajuda, seja lá qual for, e depois saiu, sem qualquer atitude suspeita. Não sei se voltou. Eu também não voltei. Hoje cedo, no ponto de ônibus, uma cama de papelão estava montada no cantinho, próximo a um bar, ainda com seu cobertor. Talvez alguém more ali, naquele pedacinho protegido da chuva e do vento, mas eu não sei, porque também não voltei.


Bem me quer II

terça-feira, 15 de março de 2016

Bem me quer
Dê-me suas mãos
Mal me quer
Não diga não
Bem me quer
com seu olhar
Mal me quer
não tem lugar!

(Priscila Silva)
 
Ano #2



Sobre nascimentos e mortes

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

E então olhei para ele e disse que sim, que este seria o momento. O que vejo, a partir então, é um olhar de aprovação e esperança, desejo e ansiedade, numa mistura gostosa e tranquila de se ver e presenciar. Talvez seja mesmo o momento de deixar a menina morrer, e vir ao mundo a mulher! Talvez... :)

... em andamento!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

"Há pessoas sãs que acreditam em cada coisa! E há pessoas desvairadas que acreditam em coisas lindas e exactas. E há pessoas sãs de cabeça e de corpo que não acreditam em nada, nem no ar, nem nos bichos, nem nos corpos, nem em nada. Todos têm medo da estranha por estar a começar a deixar de o ser, mas o contrário é a tristeza. É melhor a desgraça ou a tragédia que a tristeza. Na tristeza não acontece nada. Na desgraça ou na tragédia ainda a gente se entretém." (O sol morreu aqui - João Negreiros)

Paisagem 34 - Estrelas

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Esses dias fui convidada a ver as estrelas. Parecia algo comum, apenas mais uma parte do céu escuro que cobria São Paulo, se você olha de forma rápida e desinteressada. Então ele me disse "olha bem, dá pra ver as estrelas, milhares". E dava mesmo. O céu azul escuro parecia pintado com pingos brilhantes, cuja luz se misturava num emaranhado ao qual os astrônomos chamam de constelação. Eu não sabia o seu nome. Ele tampouco. De mãos dadas, a olhar para o céu, isto também não fazia a menor diferença.

Das declarações de amor - 3

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Muitas vezes, aquele olhar mais demorado, o aperto de mão mais firme ou o abraço mais apertado são declarações mais concretas que palavras, e é com elas que se constroem os grandes amores...


Paisagem 33 - Flores

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

 
A moça chorava enquanto segurava um buquê de flores nas mãos, em pé, no trem, às 21h do dia em que principiava a primavera. Nada mais bonito e significativo, pensava eu. Sempre invejei mulheres com buquês, imaginando a cena que precedera a entrega, e a declaração de amor implícita nas pétalas das rosas vermelhas. Vermelho paixão: clichê. Mas aquela moça, naquela noite, tinha uma tristeza nos olhos, que tentava esconder com a cabeça baixa, em meio aos cabelos. Percebi também que chorava, meio abafado, disfarçando os soluços entre as respirações. Sempre imaginei a alegria de receber um buquê, mas talvez, naquele momento, as flores representassem uma despedida, ou palavras amargas em um cartão mal escrito, vai saber. Eu sempre invejara mulheres com buquês, mas naquele dia, olhando pelo reflexo, eu sentia apenas pena.
 
Feliz 2016! ;)
 

Bilhetinho para o Alex

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Esses dias, após meses de abandono do blog por esta dona ingrata e preguiçosa, recebi a visita de um leitor chamado Alex, que me animou muito, e me encorajou a retomar o blog nestes próximos dias!

Alex, um pouco do abandono se deu por preguiça, mas continuo escrevendo nas folhinhas espalhadas pela minha escrivaninha... obrigada pelo elogio e pela força! O corpo, às vezes, é meio devagar... mas a cabeça não para ;)

Boas festas, galera! We're back soon" ;)

Manhê, tô no youtube! :D

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O canal Dance Escondida, do Youtube, fez uma entrevista com a equipe do projeto Revista Escrita Pulsante. Clica ae! :D


O ódio nosso de cada dia

sexta-feira, 7 de agosto de 2015


“O amor nunca falha, e a vida não falhará enquanto houver amor”
(Henry Drummond)

Certa vez, numa estação de trem de uma grande cidade turística em algum lugar do mundo, ouvi um homem esbravejar contra um grupo de turistas norte-americanos proferindo palavras de ódio contra uma nação e contra todo um sistema. Seu ódio era escancarado sobre os trilhos da estação, lançado à queima-roupa sobre a cara das pessoas que mal compreendiam a origem de sua fúria. Um ser humano acuado, machucado e marcado por uma ideologia extremista que culpa e condena o outro por seu “suposto” sofrimento.

Também vejo, quase todos os dias, na internet e na TV, discursos de ódio proferidos contra homossexuais, contando com ameaças e xingamentos de todos os níveis. Afrontas e ameaças a toda forma de amor, cumplicidade e compreensão do ser humano. Quisera eu compreender o ódio crescente nos corações amargurados dos proclamadores do ódio. E, infelizmente, a legião dos odiadores apenas cresce.
Odeiam, inclusive, o cabelo Black das crianças, subjugando-as à ditadura dos cabelos lisos à chapinha, padrões insignificantes e destruidores de toda uma identidade. Juntamente com o cabelo, poda-se o ideal, a originalidade e a raiz, que enfraquece, enfraquece, e sucumbe até a total extinção.
Ódio sem fundamento, alimentado por opiniões diversas e adversas sobre qualquer coisa, mínima que seja. Ódio propagado e transformado em violência, física e verbal, e que toma espaço atropelando o bom senso, a dignidade e a vida do próximo.
E assim, aos poucos, a atmosfera pesada vai tomando lugar na paisagem cotidiana da humanidade, que caminha a passos largos para o precipício da intolerância e incompreensão, com tecnologias de ponta e mentalidade de grão de feijão. Uma vez, aquele carequinha sábio* que faz discursos bonitos disse: “Um covarde é incapaz de demonstrar amor. Isso é privilégio dos corajosos”. Mal sabe ele que nossas crianças estão crescendo em meio à covardia, à incompreensão e ao ódio. Ou talvez ele saiba, mas acredite tão piamente no ser humano, que seu amor, um dia, contaminará os corações dos que passarem por seu caminho.
Talvez ele acredite na flor feia de Drummond, que fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio**. Eu tenho as minhas dúvidas, mas vejo, ainda, a flor tímida germinando nas falhas deste asfalto quente pelo qual caminhamos dia após dia. Diariamente mantenho os olhos fixos, cuidando para que não a maltratem, afinal, se ela furar o ódio, estaremos salvos!

*Mahatima Ghandi
** Poema A flor e a náusea, de Carlos Drummond de Andrade

Texto publicado na Revista Escrita Pulsante
 
 
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