Fragmentos

sábado, 4 de outubro de 2008




Há pessoas que colecionam selos, outras colecionam moedas, outras, ainda, colecionam borboletas. Aqui, gostaria de falar sobre os colecionadores de citações.

Frases impactantes que concluem poemas na forma de versos metricamente perfeitos ou trechos de capítulos de romances geniais que nos fazem refletir sobre um mundo de coisas. Citar um texto consiste em fazer um recorte significativo dentro de um propósito ou um contexto. Estes propósitos podem ser para fins acadêmicos, como fazemos para nossos professores quando escrevemos uma monografia sobre um tema para o fim do curso, ou, no caso dos "colecionadores", o propósito pode ser simplesmente a beleza que aquele recorte pode trazer ao leitor, uma espécie de "identificação" com o que foi dito.

A beleza do recorte está nos olhos de quem o faz, de acordo com a sua maneira de ver o mundo e entendê-lo. Ou não, pois, como diz Clarice Lispector: "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo o entendimento".

Como concordo com a Clarice, o meu entendimento consiste no fato de achar o recorte bonito, independentemente do contexto (do texto) do qual foi retirado. Isto não significa dizer que, entendendo-se o recorte, explica-se a obra.

Tomar o todo pela parte é um erro grave, já que, através da fragmentação deste todo, surgem novas "pequenas obras", como diz Novalis:

"Um fragmento tem de ser igual a uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo circundante e perfeito em si mesmo como um porco-espinho." (Pólen)

A imagem utilizada no final desta frase não foi das mais belas, acabando por quebrar a beleza de seu início. No entanto, este também fragmento traduz exatamente o pensamento que nós, "colecionadores de citações", temos. A intenção por detrás destas linhas selecionadas em meio a um romance de 500 páginas ou de 5 versos de um poema é a reflexão sobre somente estas linhas ou versos, tomando-os separadamente.

Estas "pequenas obras de arte" existem aos montes, em todas as obras literárias "bem escritas". Basta um olhar um pouco mais apurado para encontrá-las, extraí-las e juntá-las à coleção.

Há pessoas que nos inspiram muito, trazendo-nos novas formas de pensar, novas informações, ampliando horizontes. O artigo acima foi inspirado no comentário da minha professora de Literatura Portuguesa (que admiro muito) sobre o problema de se interpretar uma obra inteira tomando-se como base somente uma simples citação ou um recorte do texto. Concordo quanto ao erro nas interpretações, mas sou uma colecionadora de citações!!!






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