Mãos

sábado, 24 de janeiro de 2009


Eu gosto muito de mãos.
Por isso, admiro as mãos de meus amigos, amigas e estranhos que passam por mim. Lembro, com detalhes, das mãos de todos os meus amantes, e dos que pretendi amar algum dia nesta vida. Cada um em sua particularidade, uma pinta, uma cicatriz, rugas.
As mãos de minha amiga, sentada ao meu lado no ônibus, são grossas e sofridas, como a vida dela.

Os olhos cansados combinam com as mãos. Nos olhos, vê-se as feridas do coração, as cicatrizes acumuladas durante os anos. Nas mãos, os machucados causados pelo trabalho incessante, na tentativa de ocupar as horas e fazê-las correr mais rápido.

Ela não sabe que decoro os traços de suas mãos, mas ela também repara nas minhas, comparando-as. As minhas são pequenas, dedos magros e unhas grandes, pintadas com cores vibrantes (preto, vermelho, lilás). Minhas mãos não têm cicatrizes de sofrimento, apenas de molecagem...

Separamo-nos ao descer do ônibus. Minhas mãos movimentarão canetas, papel e teclas; as de minha amiga imergirão em produtos de limpeza. E, assim, nossas mãos continuarão a escrever nossas histórias, em rugas e cicatrizes.

2 comentários:

Fernanda disse...

adorei...
me lembrei de Vinicius de moraes,acho que foi ele que disse certa vez que a gente vê o cronista de verdade quando ela fala bem ,escreve sobre qualquer assunto,e vi isso aqui,um texto encantador...falando de mãos...
=)

Salve Jorge disse...

Mão
Má mão
Ou não
Mão minha
Bem minha
Cá minha
Nesse chão
São
Ou não
Asas pro céu
Pernas pro alto
Mas mão
Basta um salto
Um escarcéu
Para então
Teres no fundo
Todo um mundo
Nas artes da tua criação...

 
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