Mundo, mundo, vasto mundo... Considerações sobre a FLIP, sobre Paraty e sobre pessoas cultas e que se dizem cultas

quarta-feira, 11 de julho de 2012



Você acorda com o sol entrando por entre as frestas da janela da pousada estilo colonial em que está hospedado, toma o seu café da manhã, confere o programa e parte pelas ruas de pedra da histórica Paraty para a primeira palestra do dia. Antes, uma olhadinha rápida no mar que se estende por detrás da tenda gigantesca, que só não é tão grande quanto o azul do mar. Este é o clima da Festa Literária Internacional de Paraty. E, a meu ver, este é o clima ideal para se discutir literatura e arte. E arte é o que não falta: artesanatos indígenas, pinturas, ateliês, autores independentes, declamação de poemas a 1 real, etc. Paraty transforma-se num grande circuito de arte.

Esta foi a décima edição da Festa e a primeira que tive a oportunidade de participar. Presenciar conversas de autores sobre seus livros e temas dos mais variados, desde política até flanêrie e criação de personagens, foi uma experiência muito interessante e importante enquanto um dos instrumentos de trabalho de uma pessoa formada em Letras, a literatura.  

O público também é do mais variado: professores, doutores, economistas, ou, quem sabe, engenheiros e matemáticos, vai saber, a FLIP é democrática. Também entre estes misturam-se os cultos, os poliglotas, ah, e também os barraqueiros e os “cultos” furadores de filas de autógrafo. Também incluem-se os “cultos” que têm casa em Paraty e, portanto, conseguem os melhores lugares nas melhores mesas, mesmo que o assunto não lhe importe nem um pouco, o importante é ter uma casa em Paraty. 


Paraty também fica glamourosa nas jovens que se aventuram com saltos agulha pelas ruas de pedra, nas senhoras elegantemente vestidas para as palestras noturnas, e escuta atentamente um autor que insinua que sua obra e seu sucesso nasceram acidentalmente, e que o mais importante é observar os pássaros (Jonathan Franzen). Ainda bem que autores como Alejandro Zambra, Teju Cole, Ian McEwan e Jennifer Egan elevam o patamar das discussões e mostram, com grande profissionalismo e inteligência, que literatura é feita de estudos, reflexões, background cultural e muitas outras coisas mais importantes que glamour e piadinhas sem graça.


Quer um ótimo roteiro para aproveitar o melhor da FLIP? Acorde cedo, tome um ótimo café da manhã, saia devagar, apreciando a arquitetura de Paraty, assista à primeira palestra. Logo após, procure o mar, e procure a mesa sob a sombra mais convidativa, peça uma cerveja, e beba, em frente ao mar. “O resto é literatura.” *

*Frase de Alejandro Zambra em Bonsai. 

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