Vejo um adesivo de
candidato a deputado estadual colado nas costas de um senhor. Ou quiseram tirar
um sarro dele, ou usaram-no na campanha. Acredito que seja a primeira opção.
Não li o nome do candidato, só reparei nas vestes surradas do velhinho que
caminhava à minha frente. Um retrato da terceira idade no nosso país: uma vida
de trabalho pela sobrevivência (uma vez li em algum lugar que brasileiro não
vive, sobrevive), e a recompensa não vem nunca. Acho que ele não espera
recompensa. Só quer sobreviver. O caminho amontoado de bolivianos vendendo
lenços, e nós desviando deles. São obstáculos para se chegar à estação, eles
também sobrevivem. Os motoristas de ônibus sobrevivem em meios aos cães
abandonados e vendedores de cachorro quente. As baratas sobrevivem entre todos,
e sobrevivem a todos. A paisagem da estação muda entre pilares e concreto,
assim como as pessoas mudam: vejo rugas, mau humor e decepção. Um dia eu vi
amor, só um dia. Depois não vi mais.
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