"A PAIXÃO SEGUNDO P.M." (eu!)

domingo, 22 de março de 2009



Ela estava lá.
O azulejo branco a destacava, marrom, nojenta, monstruosa. E eu, em meu semi-sonambulismo, em plena noite, ainda sob os vestígios de meu último sonho do qual eu não me lembrava por completo, estava agora diante de meu medo.

Então aquilo que, por piedade por mim, eu não queria pensar, então eu pensei. Não pude me impedir mais, e pensei que na verdade já estava pensando.* Teria que matá-la.

O suor escorria por todo o meu corpo, frio, suor de medo do que pode vir a acontecer quando o enfrentamos, quando enfrentamos uma barata.

Como saber o que é certo. Ela estava ali, no lugar errado, na hora errada. E eu, no lugar errado, na hora errada. Nossos destinos encontrando-se, ao acaso, para que nos debatêssemos, uma diante da outra, com todas as nossas pernas. A vantagem das asas que eu não tinha. Eu a livraria de sua vida de esgotos e ela encararia meu medo, o pior que há em mim.

A imagem da massa branca, saindo de dentro de sua estrutura nojenta, feia; as asas ameaçadoras quando encurraladas. A morte por esmagamento: a transcendência.

Eu precisava ser. Estava sendo, ali, enquanto meu suor escorria e os olhos não perdiam a barata de vista. As mãos tremendo, os dentes cerrados como se fossem se quebrar, em postura de defesa contra mim mesma e contra o ser marrom de asas que me ameaçava com sua fétida existência.

Avancei um passo.

Terei mesmo avançado ou imaginara enquanto vigiava o canto do azulejo?

Um golpe desferido contra o branco reluzente. O eco da batida. A massa branca ao redor.

Minha alegria e minha vergonha foi ao acordar do desmaio. Não, não fora desmaio. Fora mais uma vertigem, pois eu continuava de pé, apoiando a mão na parede. Mas eu sabia, antes mesmo de pensar, que, enquanto me ausentara na vertigem, "alguma coisa se tinha feito". *

E sai, triunfante por haver suportado o suor, o eco e a massa branca no azulejo branco.

(Os trechos com (*) são de "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector. O restante é a minha versão da cena em que G.H. tem a maior experiência de sua vida. O trecho original pode ser lido neste link, para quem tiver a curiosidade de saber qual foi essa experiência!)


4 comentários:

Mila disse...

rs.........hilário de tão intenso...mil bjs

Salve Jorge disse...

Se a barata
Você maltrata
A mim arrebata
Com sua narrativa de gata
Que avança e recua
Inexata
E crua
Prosa nua
Que impacta e ata
Enquanto sua imaginação sua...

Mila disse...

vá se acostumando vc tem uma amiga retardada...e preguiçosa...poderia te passar email...poderia pergunta isso po depopimento...mas a peguiça é uma merda...vamos lá...como faço p colocar os blogs q acompanho lá na página principal...ao invés de só no meu perfil?
sou uma porta em se tratando de pc...blog e blá blá bla'...
aguardando resposta...

a retardada...
bjs

Mila disse...

meu r tá c problemas....

 
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