Dos gritos silenciosos

quarta-feira, 24 de agosto de 2016


Esses dias, na fila da farmácia, um homem esbravejava na fila do caixa contra o governo, o sistema e os empresários. O tamanho da fila despertara no homem a fúria que iniciara todo o discurso. “Não contratam mais a gente em idade de serviço, contratam aposentados, para não pagaram os direitos”, dizia atrás de mim. “Empresários são assim, por isso que o Brasil não vai pra frente, é cada um por si... empresário domina tudo, só pensa em si...”. Não olhei para trás para não concordar e nem discordar. Não que eu discorde, mas acontece que, naquele dia, eu não estava para críticas. Não que ele não devesse esbravejar, mas acontece que ninguém ouve. Eu ouvia, mas fingia não ouvir. A moça do caixa também ouvia, mas fingia não ouvir. Ele estava atrás de mim, e passou suas compras de remédios logo após a minha saída. A última coisa que vi foi que ele mexia na cestinha de remédios em promoção, já em silêncio, examinando algo para dor de cabeça, em meio à fila que não o ouvia e os gritos silenciosos que calara desde então.


Nenhum comentário:

 
FREE BLOGGER TEMPLATE BY DESIGNER BLOGS